Teoricamente, deveríamos aprender a nomear nossos sentimentos e emoções e depois de elaborar tudo, devolver pro mundo um produto mais sofisticado, mais civilizado, mais de acordo com a paz e a harmonia que tanto queremos ver entre as pessoas.
Mas normalmente isso não acontece. A maioria de nós fomos ensinados a “engolir o choro”, “bater de volta”, “ignorar”, “fazer piada da situação” ou “ser forte”. Crescemos com essa inabilidade de ler nosso padrão mental e emocional e, consequentemente, temos dificuldade em entender as demandas infantis sob essa ótica.
O que chamamos de birra, manha, drama, manipulação, desafio, desobediência, agressividade, hiperatividade e falta de educação, pode ser, na verdade, um pedido deslocado de ajuda, uma maneira torta de chamar a atenção. Crianças e adultos querem ser vistos, percebidos, mesmo que isso seja feito através de um “mau comportamento”.
Os pedidos deslocados vão nos acompanhando pela vida adulta, se não tratarmos de passar por uma educação emocional.
Às vezes, queremos pedir um simples abraço, mas armamos uma briga. Às vezes não nos sentimos reconhecidos e apreciados, queremos pedir um olhar compreensivo e não julgador, mas tratamos de criticar tudo e todos. Às vezes estamos inseguros, mas para não sermos machucados, passamos sempre a imagem de que não precisamos de nada.
Mas onde se ensina a coerência entre o sentimento e a ação? Normalmente, apanhamos da vida um bocado até nos tornarmos autodidatas no beabá da cartilha emocional. Muitos de nós não saem nunca desse nível básico. E criamos nossos filhos no mesmo molde.
Estamos vendo uma explosão de intolerância, ódio, indiferença. Quero crer que são reflexos dessa falta de auto-percepção. Quando não queremos nos enxergar, fica difícil enxergar o serzinho carente de amor e atenção que está diante de nós. E também fica mais complicado olhar para fora do nosso umbigo e cultivar mais empatia.
Amar um filho também envolve enxergar a criança que ainda somos. Ter ouvidos para perceber quais desejos essa criança guarda dentro de si. E ter a coragem de tentar suprir essa criança do que não recebemos.