Uma das coisas que mais me estressam na lida do dia a dia com minha filha é a questão do tempo. Do meu tempo. Essa impaciência, essa pressa, esse quase desespero é algo real, palpável. Seja na fila do banco, do restaurante, no trânsito, no hospital, até no lazer, me pego querendo tudo pra ontem. Agora, já.

Vivemos numa era em que “tempo é dinheiro”, mas desperdiçamos esse tempo precioso com passatempos inúteis, que não trazem riqueza à nossa alma. Alternamos períodos de atividade frenética com períodos de exaustão e necessidade de isolamento. Nossas vidas hiperconectadas criam uma ilusão de que não podemos perder nada, que precisamos estar “sempre alertas” a todos os fatos, oportunidades, fofocas e conversas, pois isso significa “aproveitar a vida”.

Se a internet demora mais que cinco segundos pra abrir alguma coisa que eu quero ver, já sinto o coração acelerando, a impaciência chegando. No trânsito, quando algum apressadinho quer me ultrapassar, sinto raiva. Quando espero para ser atendida, numa loja ou serviço de atendimento ao consumidor, quero uma resposta imediata. E quase sempre me frustro.

Mas o desafio maior é conciliar meu tempo com o tempo da filha. Aprendi que uma criança de até sete anos é movida por uma vontade inata de seguir seus instintos e desejos. Uma exploração sem fim, que não conhece calendário e relógio, nem agenda, nem compromissos inadiáveis. E aí, entramos nós, adultos, nessas vidinhas, querendo estabelecer rotinas, rituais, ritmos.

Por um lado, vejo que a rotina é fundamental na vida de uma criança pequena. Mas por outro, preciso estar atenta para não exigir precisão britânica e obediência militar de uma criança de menos de três anos.

O nó acontece quando quero impor meu tempo acima de qualquer coisa, sem nenhuma margem de manobra. Exemplificando: está na hora de ir embora. Mas ela não quer ir embora. É claramente o meu tempo contra o tempo dela. E aí, venho aprendendo que é necessário que eu me faça algumas perguntas, antes de impor minha autoridade: “É realmente importante que a gente vá embora agora, nesse exato minuto? Ou eu posso esperar mais um pouquinho? Ela está realmente sentindo prazer e se divertindo? Ou ela mesma já mostra sinais de que quer ir embora? Existe alguma maneira mais empática e positiva de convencê-la a ir, antes de partir pro “quem manda sou eu”?

O nó acontece quando eu quero impor meu tempo acima de qualquer coisa, sem nenhuma margem de manobra.

Tenho percebido, por experimentação, muitos erros e alguns acertos, que os maiores estresses, birras e confusões acontecem quando eu teimo que o meu tempo é mais importante que o dela. Quando eu não respiro, não paro, não penso, quando eu exijo dela mais do que ela pode me dar no momento. Quando eu verdadeiramente não estou conectada com ela, a ponto de perceber que posso estar interrompendo uma brincadeira sensacional.

Às vezes, basta um simples respirar, contar até 10 e subitamente consigo que ela coopere e me siga rumo à saída. Às vezes, quando estou em equilíbrio interno, surgem ideias criativas pra redirecionar o foco e consigo, ao mesmo tempo, respeitar o tempo dela e o meu. Mas muitas vezes eu sou a própria criança, sem nenhuma disponibilidade de ceder, vítima da impaciência e da irritabilidade. E como ela sente minha energia, saem as faíscas.

O mais fantástico nessa aventura de ter filhos é que a gente aprende o tempo todo. Eles são nossos verdadeiros mestres. Através deles (e do comportamento “impróprio” deles) conseguimos enxergar nossas próprias sombras e oportunidades de profundas reformas internas.

Quando minha filha insiste em correr pela casa, dando risada e fugindo de mim, que quero desesperadamente colocar uma roupa nela depois do banho, porque estamos atrasadas pra algum compromisso, existe aí um convite a algo novo, escondido sob um disfarce de “indisciplina”: diversão e prazer, em vez de obrigação e rotina. Quando venço meus desafios internos e consigo aceitar o convite, uma mágica acontece: eu também consigo rir de mim mesma, da situação toda e as coisas fluem.

Esse milagre da infância, o viver no momento presente, tem me ajudado a termos nosso próprio tempo juntas, rompendo a ditadura do relógio, nem que seja por alguns segundos durante um dia inteiro. E essa “rebeldia” é vital para que esses poucos segundos valham lembranças de uma vida inteira.