Mamãe e papai, eu vou ser atendente de lanchonete, ou lixeiro, ou faxineira, ou porteiro, ou babá. Mas não se preocupem, porque se tudo der certo, eu vou ganhar meu salário trabalhando honestamente e vou me orgulhar muito da minha vida, mesmo não ganhando tanto quanto meus colegas. E vocês vão se orgulhar também.
Todos os pais e mães já ouviram essa frase: “Aproveita, porque passa muito rápido!“. No meio das madrugadas insones, cheirando a leite, embaladas por choros e cansaço sem fim, fica difícil acreditar nisso. Mas quando me dei conta, dei de cara com uma menininha falante e articulada, imersa num mundo de fantasia, cheia de vontades e determinação. Onde foi parar minha bebê? E o que tudo isso veio me ensinar?
Boa parte da minha infância se passou nos anos 80, quando floresceu a autoajuda. Palavras como amor próprio e autoestima foram bombardeadas pelos “gurus” da época, na TV e nos livros. Até hoje temos essa tendência de achar que autoestima é o maior bem que podemos deixar para nossos filhos. O fato de confundirmos elogio com encorajamento pode explicar em parte porque a autoajuda acabou sendo motivo de escárnio.
Estou há alguns meses fora do ar, mas por um bom motivo: fiquei envolvida na criação da minha nova página sobre cerâmica, que acaba de sair do forno. Eu que me gabava de fazer várias coisas ao mesmo tempo, confesso que não consegui. Mergulhei de cabeça nesse novo universo e não tive olhos para mais nada. O que era apenas um hobby ou uma expressão de um desejo há muito reprimido, tomou um caminho inteiramente inesperado.
Estamos quase no final de 2016, um ano duro e desafiador, especialmente em nível político e econômico. Às vezes fica difícil manter o otimismo. Mas a palestra da cineasta Estela Renner, criadora da Maria Farinha Filmes e da fundadora do Instituto Alana, Ana Lucia Villela, realizada na escola Waldorf Rudolf Steiner, em 24 de novembro, me deixou emocionada e esperançosa. A potência de duas mulheres que, através da amizade e da parceria, estão tentando mudar o mundo, me contagiou também.
Carlos Gonzales é conhecido como o “pediatra que quebra regras”, mas o que ele diz e defende está profundamente enraizado no passado. Não na época de nossas mães, avós ou bisavós, mas há 1 milhão de anos, quando ainda nem éramos conhecidos como homo sapiens. Segundo ele, essa fase da evolução humana explica, ainda hoje, o comportamento da imensa maioria dos bebês. O pediatra catalão esteve em São Paulo, em 19 de novembro, numa palestra organizada pela Editora Timo, que publica três livros dele no Brasil: “Besame Mucho“, “Manual prático de aleitamento materno” e “Meu filho não come“. Num auditório lotado de pais, mães, educadores, profissionais ligados à infância, além de muitos bebês, ele falou sobre choro, instinto materno, afeto, ciúme, birras e alimentação.
Liberdade com estabilidade, dificuldades e soluções para a ascensão profissional, inclusão das minorias negras, periféricas e com deficiência, violência doméstica e abuso sexual, novos arranjos familiares na criação dos filhos, superação de tragédias pessoais, compaixão, solidariedade e propósito de vida. Esses temas urgentes e eletrizantes deram o tom do TEDxSP, realizado em 2 de novembro, na Sala São Paulo. As palestrantes desmistificaram o “empoderamento feminino” e mostraram caminhos para uma sociedade mais igualitária entre homens e mulheres.”Já era hora de falar sobre isso“, foi o mote do evento.
Amigxs leitorxs, vocês andam assustadxs ou aliviadxs com a enxurrada de desabafos de mães na internet? Apoiam ou repudiam as mães que têm a coragem de dizer que a maternidade tem seus momentos de raiva, dúvida, medo e até arrependimento? É tudo frescura de quem “não nasceu pra ser mãe” ou uma confissão sincera e corajosa? As respostas podem estar nas nossas próprias infâncias.